“A pretexto de crónica anterior, meia dúzia de “e-mails” informam-me de que sou um rematado “fascista”. Os remetentes, “democratas” no sentido que o “Avante!”dá à expressão, afirmam-se indignados com a minha “impunidade” e aspiram a varrer-me da superfície terrestre ou, no mínimo, do DN.Três décadas e tal depois, ainda não falha. Se uma pessoa insinua que os meses posteriores ao golpe de 1974 nem sempre foram encantadores, essa pessoa é, evidentemente, “fascista”. Em Portugal, preferir a legitimidade eleitoral à “legitimidade revolucionária” de uns malucos perigosos é sintoma de “fascismo”. Defender a propriedade contra a colectivização é sintoma de “fascismo”. Achar que Ary dos Santos era um embaraço literário é sintoma de “fascismo”.
Por acaso, se atendermos a minudências técnicas (a concentração do poder nos militares, a glorificação do Estado, etc.), o regime que o PREC advogava era mais próximo do fascismo, sem aspas, do que da democracia parlamentar em curso. Se calhar o problema é esse. No lado dos perseguidos, durante o salazarismo, ou no lado dos perseguidores, durante o “gonçalvismo”, os “democratas” habitaram (os “democratas” jovens gostariam de ter habitado) um mundo de regras simples e códigos que entendiam, um mundo de combates, denúncias, ódios e inimigos inequívocos. Em suma, um mundo que excita as vocações totalitárias.” (http://www.dn.sapo.pt/2008/05/04/opiniao/dias_contados.html)
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