Em geral quando os críticos da Eutanásia ficam indignados com a possibilidade de alguém fazer do suicído um negócio demonstram uma total ignorância e falta de oportunidade de ajudar os outros e beneficiar de um mercado livre.
1. Quando alguém quer morrer e recorre a alguém que preste esse serviço fá-lo de livre vontade.
2. Se alguém de livre vontade quiser morrer tal não é impeditivo de diálogo e de persuassão de modo a evitar o suicídio.
3. Se alguém se quiser suicidar fá-lo-à de qualquer maneira mas se essa pessoa poder optar por uma morte mais rápida e menos dolorosa porque é que irá arriscar-se a uma tentativa de suicídio que se pode tornar dolorosa?
4. Se alguém não tiver coragem de se suicidar e quiser morrer pode sempre pagar a uma agência que lhe proporcione o serviço de forma mais rápida e indolor possível pois menos uns trocos na carteira não lhe farão mal tendo em conta o fim a atingir.
5. Não há motivo para se ficar indignado com argumentos do género “não é digno da pessoa humana alguém lucrar com a morte de outra pessoa” pois se alguém quiser morrer fá-lo-à de qualquer maneira com maior risco de uma tentativa de suicídio que pode correr mal. Deste modo, a pessoa que se quer suicidar sempre ajuda outra pessoa que quer viver pois ao retribuir-lhe financeiramente contribui para que os que fiquem continuem a lutar por melhores condições de vida.
6. Acaba-se uma vida inútil e depressiva e fomenta-se uma vida produtiva e mais feliz. A vida perpetua-se, uns vão e outros virão. A morte de uns ajudará outros. É o eterno retorno.
Ora então boa tarde… senhor CS… resolvi visitar o teu blog.. e este artigo chamou-me a atenção.
Estreio-me assim desta forma neste espaço, e como sabes.. sobre vários assuntos partilhamos as mesmas ideias.. noutros nem por isso, por isso vou comentar cada argumento em separado…
1. Quando alguém quer morrer e recorre a alguém que preste esse serviço fá-lo de livre vontade.
Claro está.. nem poderia ser de outra forma.. e se recorre.. em principio, é porque não pode pelos seus próprios meios suicidar-se.. ou talvez lhe falte a coragem ( mas remeto essa hipótese para segundo plano para não desviar do tema).
2. Se alguém de livre vontade quiser morrer tal não é impeditivo de diálogo e de persuassão de modo a evitar o suicídio.
Nem poderia ser igualmente de outra forma… se cada um é livre de se suicidar, isso não é impeditivo de se tentar analisar as causas de tal decisão e de perceber se é essa a real intenção ou apenas de chamar a atenção, ou mesmo pedir ajuda… ( o que aconteçe ainda assim muitas vezes, mais do que se julga ). Esse dialogo não só deverá ser determinante para avaliar correctamente as verdadeiras intenções, como também para encontrar possíveis soluções alternativas que não passem pelo suicídio, isto se existirem claro está. ( Cuidados paliativos gratuítos para doentes terminais, é um dos exemplos ). Mas que fique claro que a última e decisiva palavra pertence SEMPRE ao próprio. De fora deixo os casos de defeciência mental e todos aqueles que por uma razão ou por outra não estejam na posse das suas faculdades recionais e cognitivas. (Este é um “limbo” muito discutivel, sobre o qual não me irei aqui pronunciar para que não nos afastemos do problema em si mesmo).
3. Se alguém se quiser suicidar fá-lo-à de qualquer maneira mas se essa pessoa poder optar por uma morte mais rápida e menos dolorosa porque é que irá arriscar-se a uma tentativa de suicídio que se pode tornar dolorosa?
Ora aqui é que a questão está colocada de forma digamos enviosada. Isto porque não é asim tão certo que o fará… se o passo 2 produzir efeitos, ou se por mero acaso as coisas não correrem como o suposto suícida planeia.
Quanto ao ser menos doloroso, vai sempre depender do método que o suícida escolher e dos meios que possa dispor… como em tudo…, existem suícidas mais astutos que outros…
(em certos casos a ajuda torna-se mesmo necessária para levar a “bom termo” tal tarefa… imagine-se alguém q está entrevado numa cama, paralizado e que só consegue mexer a cabeça…, não estou bem a ver como é que uma pesoa nestas condições se possa suicidar sem auxilio de outrém. Pode em desespero tentar suster a respiração, mas mesmo assim o corpo naturalmente tornará ingória tal tentativa ).
4. Se alguém não tiver coragem de se suicidar e quiser morrer pode sempre pagar a uma agência que lhe proporcione o serviço de forma mais rápida e indolor possível pois menos uns trocos na carteira não lhe farão mal tendo em conta o fim a atingir.
Ora aqui é que começo a discordar contigo. O argumento final, pese a ironia, não é autosustentável. É claro que para quem morre o dinheiro não lhe irá fazer falta alguma.. nem o dinheiro nem outra coisa qualquer. Mas isso não justifica que se passe a cobrar pelo serviço obrigatóriamente. Isto por várias razões…
Uma delas prende-se com o facto de que as agencias fariam o trabalho apenas por dinheiro, logo quem não tivesse não poderia aceder aos serviços, o que mais não é uma forma de mercantilizar a morte e negar o direito a morrer para quem por impossibilidade económica não puder pagar o serviço. Admito que o Estado pudese ele próprio fiscalizar e gerenciar “centros” de “morte assitida”, onde não faltasse igualmente um trabalho prévio de análise e acompanhamento de acordo com o atrás exposto. Mas nunca uma agencia… tornar um acto que posso considerar de humanidade extrema, i.e., proporcionar em certos casos minimizar o sofrimento alheio num mero negócio rentável, retirando-lhe o que resta de humanidade no próprio acto em si, isso já é a meu ver… bastante criticável.
5. Não há motivo para se ficar indignado com argumentos do género “não é digno da pessoa humana alguém lucrar com a morte de outra pessoa” pois se alguém quiser morrer fá-lo-à de qualquer maneira com maior risco de uma tentativa de suicídio que pode correr mal. Deste modo, a pessoa que se quer suicidar sempre ajuda outra pessoa que quer viver pois ao retribuir-lhe financeiramente contribui para que os que fiquem continuem a lutar por melhores condições de vida.
Ora parte do aqui exposto já refutei acima, pelo que me centrarei no que falta. A pessoa que vai morrer pode sempre se tiver posses para tal ajudar os que cá ficam, se a tal estiver disposto. Mas não tem que obrigatóriamente ajudar as ditas agências… pode a meu ver ajudar monetáriamente outras instituições carenciadas ou até´a própria familia se a tiver. O acto de ajuda num hipotético acto de suícidio assitido não poderá estar dependente de qualquer retribuição financeira. Esta é por sí só a imoralidade. Não é o poder ser benefeciado com.. é o ter de ser beneficiado para.. que está mal.. a pessoa, essa retribui.. se quiser.. a quem quiser… poderá ser a suposta agência.. ou não. De resto.. o lucro… não obrigatoriamente monetário.. já contece sempre que alguém morre… pois o todo não conseguiria suportar um cada vez maior número de indíviduos… é um lucro “natural” e social, necesário até. Logo a tónica não é aqui o lucro, mas o dinheiro.. o vil metal.
6. Acaba-se uma vida inútil e depressiva e fomenta-se uma vida produtiva e mais feliz. A vida perpetua-se, uns vão e outros virão. A morte de uns ajudará outros. É o eterno retorno.
Ora mais uma vez tenta-se argumentar num pressuposto universalmente aceite que o suicida já é À partida um ser com uma vida “inútil” e “depressiva”, em prol de uma vida “produtiva” e “mais feliz”.
Nem o suposto suícida tem de ser mais infeliz do que o que cá fica, porque o segundo pode até nem ter sequer coragem de dar o passo em frente e ser ainda assim mais infeliz do que o primeiro. Quanto ao inutil.. se calhar o suposto suícida, quando encontra algo válido que devolva a razão de viver, pode-se tornar ele próprio num elemento mais válido do que um outro que na verdade não se tente suícidar, mas cuja vontade de viver lhe falte igualmente, assim como a força de vontade que o leve a cometer o respectivo acto. Os que cá ficam não são obrigatóriamente mais uteis do que os que vão.
Um abraço…
Aires Ferreira
Bem-vindo Aires,
os teus comentários são pertinentes por isso vou tentar responder-te. Uma vez que o teu comentário é longo e parece-me que compreendeste em geral o post vou apenas explicar alguns pontos que penso não serem totalmente claros.
Em primeiro lugar, o ponto verdadeiramente relevante é o ponto 1, tudo o resto são consequências naturais, embora não necessárias, da premissa 1.
“( Cuidados paliativos gratuítos para doentes terminais, é um dos exemplos ).”
Quem é que paga estes cuidados paliativos?
“Ora aqui é que a questão está colocada de forma digamos enviosada. Isto porque não é asim tão certo que o fará… se o passo 2 produzir efeitos, ou se por mero acaso as coisas não correrem como o suposto suícida planeia.”
Esta tua crítica é bastante pertinente embora o exemplo que tenha dado seja uma mera hipótese entre várias outras que poderiam motivar alguém a recorrer a outra pessoa em vez de se suicidar seja ela por motivos de falta de coragem ou por querer ter maiores garantias de ter uma morte mais rápida e menos dolorosa do que se calhar conseguiria garantir se fosse ela própria a tentar suicidar-se. Mas o que interessa neste ponto é que se a pessoa em causa quiser mesmo morrer ela irá suicidar-se e não vale a pena querer mantê-la contra a sua vontade presa para evitar que ela acabe com a sua vida, mas admito que poderia ter esclarecido melhor este ponto.
“Quanto ao ser menos doloroso, vai sempre depender do método que o suícida escolher e dos meios que possa dispor… como em tudo…, existem suícidas mais astutos que outros…”
Exacto.
“Ora aqui é que começo a discordar contigo. O argumento final, pese a ironia, não é autosustentável. É claro que para quem morre o dinheiro não lhe irá fazer falta alguma.. nem o dinheiro nem outra coisa qualquer. Mas isso não justifica que se passe a cobrar pelo serviço obrigatóriamente. Isto por várias razões…”
O argumento é sustentável porque é uma consequência natural de se prestar um serviço mas não disse que tem obrigatoriamente de ser pago, o serviço até pode ser prestado de borla (aliás o preço até é irrelevante) mas o facto é que quando se presta um serviço, em geral, alguém tem de pagar o método e o serviço que está a ser prestado. Ou esse custo é privado e paga o interessado em acabar com a vida ou é pago pelo Estado. Eu defendo que seja pago ao nível privado dado que os contribuintes não têm que pagar pelos problemas dos outros.
“Uma delas prende-se com o facto de que as agencias fariam o trabalho apenas por dinheiro, logo quem não tivesse não poderia aceder aos serviços, o que mais não é uma forma de mercantilizar a morte e negar o direito a morrer para quem por impossibilidade económica não puder pagar o serviço.”
Eu não vejo o problema em as agências fazerem o trabalho por dinheiro porque em geral as pessoas prestam serviços em troco de dinheiro. Os médicos tratam as pessoas a troco de dinheiro e isso não os impede de tentarem fazer o seu trabalho correctamente e de serem sensíveis à situação do doente. Aliás até deveria de servir de maior motivação para que prestem um bom serviço e continuem a ter clientes.
“, logo quem não tivesse não poderia aceder aos serviços, o que mais não é uma forma de mercantilizar a morte e negar o direito a morrer para quem por impossibilidade económica não puder pagar o serviço.”
Isto aplica-se a praticamente tudo a não ser que queiramos que seja tudo “gratuito”, além do mais quem é que vai pagar essa despesa?
“Mas nunca uma agencia… tornar um acto que posso considerar de humanidade extrema, i.e., proporcionar em certos casos minimizar o sofrimento alheio num mero negócio rentável, retirando-lhe o que resta de humanidade no próprio acto em si, isso já é a meu ver… bastante criticável.”
Não é relevante, é um caso de sensibilidade de cada um em relação ao problema, logo parcial. Expliquei este ponto em cima. É pouco provável que serviços destinados a resolverem problemas privados sejam gratuitos por vários motivos:
a) ninguém tem de ser obrigado pagar (os contribuintes) pelos problemas pessoais dos outros;
b) há custos dependendo dos materiais utilizados, sejam eles comprimidos ou outra coisa qualquer, para ajudar alguém a morrer e isto para além (caso seja preciso) de poder ser necessário alguém necessitar de acompanhamento psicológico.
c) vai ser muito difícil fazer com que as pessoas trabalhem de borla, embora não seja impossível porque não é necessário que o façam a troco de dinheiro, porque o que motiva as pessoas a trabalhar é receberem uma quantia finançeira pelos trabalhos que prestam. É claro que há a possibilidade que levantaste de o Estado poder pagar estes serviços mas esse nem é o ponto mais relevante deste post e seria preciso provavelmente outro post embora já tenha afirmado que me oponho a que os contribuintes paguem esses serviços.
Acho que pelo menos consegui explicar que não há obrigatoriedade finançeira nenhuma embora seja muito provável que alguém tenha de pagar os custos do serviço prestado. O que defendi no post são consequências naturais de uma liberdade de direito natural e, logo, legítima.
“Nem o suposto suícida tem de ser mais infeliz do que o que cá fica, porque o segundo pode até nem ter sequer coragem de dar o passo em frente e ser ainda assim mais infeliz do que o primeiro. Quanto ao inutil.. se calhar o suposto suícida, quando encontra algo válido que devolva a razão de viver, pode-se tornar ele próprio num elemento mais válido do que um outro que na verdade não se tente suícidar, mas cuja vontade de viver lhe falte igualmente, assim como a força de vontade que o leve a cometer o respectivo acto. Os que cá ficam não são obrigatóriamente mais uteis do que os que vão.”
Esse ponto é universalmente aceite embora não seja sempre verdade. É claro que os papéis podem inverter-se e até dar-se o caso de a pessoa que quer morrer ser menos infeliz que a pessoa que lhe vai prestar o serviço mas, em geral, é normal que as pessoas pensem que a pessoa que se quer suicidar é inútil porque costuma ser uma das seguintes hipóteses:
1. não consegue lidar com a realidade e por isso prefere acabar com a vida, logo é um fraco;
2. é uma pessoa deprimente que não consegue achar motivos para viver.
O argumento é ele todo criticável mas parece-me que grande parte das criticas à eutanásia tendem a ser uma questão de sensibilidade de cada um em vez dos problemas epistemológicos que a questão pode levantar.
Abraços, C.S.
Na verdade, não concordo nenhum um pouco com seus comentários.
Quem quer se suícidar primeiramente tenta preparar as pessoas queridas para que isso não ocorra.
Tentativa invalida. Então sem maiores significados parte para o suícidio para que assim as coisas que até então não tinha sentido ou ele imagina não ter acabam-se ali mesmo.
Sou cético e isso ajuda e instiga um pouco mais essa vontade.
Mais isso é só uma pensamento e nada de incentivo.