“O desejo da derrota norte-americana mantém-se quase intacto em relação aos tempos da Guerra Fria, diferente, contudo, é a ausência de uma alternativa. Se o conflito da Coreia acontecesse agora, Burchett continuaria a defender a retirada norte-americana mas provavelmente já não arriscaria afirmar como fez nos anos 60: “[Na Coreia do Norte] o povo beneficia de uma vida radiosa, tanto sob o plano material como cultural.”
Hoje, quando se pede a retirada das forças da coligação que invadiu o Iraque, está contrapor-se o quê para aquele país? Para lá do gozo que alguns terão em ver novamente os marines regressarem derrotados a casa, o que se espera que aconteça ao Iraque após essa retirada? Apoiei a invasão do Iraque e não tenho dúvidas de que um dos grandes riscos dessa invasão é precisamente o perigo de os EUA afectarem por um tempo indefinido, àquele país, uma parte significativa do seu poder militar. Parecendo-me indispensável que se discutam os moldes e os argumentos usados para invadir o Iraque, mas parece-me muito mais grave que, escassos anos depois, se resolva retirar porque as sondagens não estão a correr pelo melhor e porque as dificuldades são muito maiores que as inicialmente previstas.
Não sei em que momento o povo da Coreia do Sul deixou de ser mártir e aquele país deixou de ser apresentado em reportagens várias como o parente pobre e oprimido do seu progressista e livre irmão do Norte. E muito menos sei se a situação no Iraque evoluirá de modo a que se possa dizer que os EUA conseguiram repetir numa ocupação militar o sucesso conseguido na Coreia do Sul. Mas é claro que em muito do que se lê, vê e ouve, em Portugal, sobre o Iraque transparece sobretudo o desejo do desastre. (Para a história do jornalismo ficará a bizarra cobertura das primeiras eleições livres no Iraque: povo algum deve ter visto a sua participação eleitoral causar tal espanto e embaraço entre os repórteres.)”
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