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Archive for 15 de Março, 2008

“A maior parte das empresas privadas não precisa de utilizar processos formais de avaliação dos trabalhadores. As empresas privadas têm de ser lucrativas. Para serem lucrativas têm de produzir bens e serviços que os clientes apreciem. Se a empresa funcionar mal, os clientes fogem para a concorrência e os gestores são forçados a agir. Os gestores têm incentivos para avaliar de forma justa os seus funcionários, mas não precisam de os avaliar de forma burocrática. Utilizam o seu julgamento subjectivo para determinar quais são os melhores funcionários. O sistema de avaliação informal funciona porque se as empresas não servirem o melhor possível o cliente vão à falência.O Ministério da Educação financia as escolas com o dinheiro dos impostos, essencialmente através do pagamento de salários a professores e funcionários. Se um pai retirar o seu filho de uma escola pública, as receitas dessa escola mantêm-se. As escolas não têm os incentivos financeiros para detectar e corrigir o mau profissionalismo dos professores.O Ministério da Educação é gigantesco e encontra-se demasiado distante das necessidades das comunidades que pretende servir. Por este motivo, o ministério optou por implementar um sistema de avaliação artificial, burocrático e formal.

No modelo centralista em vigor, esta é a única forma que o ministério tem para controlar a qualidade dos serviços prestados pelos professores. Mas este sistema burocrático de avaliação só é necessário e inevitável porque as escolas não estão sujeitas à pressão das comunidades que deveriam servir.

Num sistema de ensino descentralizado e concorrencial, a avaliação burocrática é desnecessária. Se as escolas passassem a financiar-se exclusivamente através do cheque-ensino, entrariam em concorrência entre si e seriam avaliadas directamente pelos pais dos alunos. O director da escola passaria a ter todos os incentivos para avaliar os professores de forma justa, mas não burocrática, de acordo com o contributo de cada um para o sucesso da escola.”

João Miranda no Diário de Noticias,

Sábado, 15 de Março de 2008.

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Robert Wescott foi assessor económico do Presidente Bill Clinton e agora faz parte da equipa que aconselha o candidato democrata Barack Obama. Esteve em Lisboa para participar numa conferência para clientes empresariais do Banco Santander Totta e diz que a Reserva Federal norte-americana faz bem em ser agressiva nas descidas de taxas e que o BCE devia começar a pensar em fazer o mesmo.
PÚBLICO – De quem é a culpa pela situação actual da economia norte-americana?
ROBERT WESCOTT – A situação realmente não é fácil. Podemos vir a ter uma recessão e é altamente provável que venhamos a ter um período de crescimento muito lento. Há vários factores que explicam este resultado. Um deles é que tivemos uma combinação de inovação financeira e taxas de juro muito baixas, que levou à criação de um fenómeno muito forte de consumo baseado na riqueza imobiliária. De 2004 a 2007, os americanos consumiram mais do que podiam, usando a sua casa como uma espécie de caixa multibanco. Como o preço da casa não parava de subir, usaram esse dinheiro para comprar automóveis e televisões com ecrã plasma. Agora, aquilo a que estamos a assistir é a inversão desse processo. Neste momento, de todos os americanos que compraram casa, 10,3 por cento estão a dever um valor ao banco que é superior ao valor da casa. Este é um dado impressionante e é um dos factores que estão a levar a que o consumo privado seja muito fraco durante o ano de 2008.
E significa que os problemas a que se tem assistido no segmento de crédito subprime se irão alargar ainda mais?
Sem dúvida. O malparado nos empréstimos para compra de automóvel e nos cartões de crédito, por exemplo, já subiu. Mesmo nos segmentos de crédito mais fortes, já se atingiu o máximo dos últimos dez anos no malparado.
Concorda quando se diz que é o resultado de uma política demasiado expansiva de Greenspan à frente da Fed?
Greenspan terá de arcar com algumas culpas. A Fed colocou na altura as taxas de juro em um por cento e manteve-as a esse nível durante quase dois anos. Foi o período mais longo de juros baixos em décadas. Numa situação dessas, coloca-se em movimento uma bolha no mercado imobiliário.
E agora? A Fed está a descer taxas de forma muito rápida. Não se pode estar apenas a criar uma nova situação perigosa…
Acho que não. Os EUA não têm, neste momento, um problema sério de inflação. O abrandamento da economia a que se irá assistir vai, por si, colocar a inflação a um nível mais baixo. O problema do crescimento é muito mais grave que o da inflação. O que está a fazer subir agora a inflação é o petróleo, mas este tipo de choques é geralmente temporário, não dura mais do que 12 meses.
Mas, até agora, apesar de a economia mundial já estar a abrandar, o preço do petróleo continua a subir…
Reconheço que estava à espera que o preço do petróleo já tivesse voltado aos 70 ou 75 dólares por barril, mas o abrandamento económico ainda vai produzir o seu efeito. Quando os EUA estiverem em recessão e as exportações asiáticas a diminuir, o preço do petróleo vai mesmo voltar a cair e de forma acentuada.
O pacote de estímulos aprovado pelo Congresso tem o potencial para ajudar a economia ou é só uma medida simbólica dos dois partidos em vésperas de eleições?
Claro que é um pacote marcadamente pré-eleitoral que os dois partidos tinham o interesse político de promover. Mas não é só isso. É um pacote muito substancial: 150 mil milhões de dólares vão fazer crescer de forma significativa o rendimento disponível durante o segundo e o terceiro trimestres deste ano. E é suficientemente grande para mitigar uma recessão. Podemos ter um primeiro trimestre de 2008 negativo, até podemos vir a ter o último trimestre do ano passado revisto para negativo. Mas o pacote fiscal pode ajudar a garantir um segundo trimestre positivo.
Neste cenário, as pessoas vão gastar o dinheiro?
Temos cortes de impostos que não são para os ricos, são para as classes mais baixas e médias. Estima-se que entre 20 e 40 por cento desse dinheiro seja gasto durante os seis meses seguintes, o que vai ajudar a conter a recessão. É muito dinheiro. Em 2001, George Bush fez um corte fiscal de 37.000 milhões de euros que alguns defenderam que ajudou a suavizar a recessão de 2001. Agora, esta ajuda é quatro vezes maior.
O futuro presidente vai poder tomar medidas do mesmo tipo quando for eleito?
Sou suspeito porque fui assessor de Bill Clinton, mas em 2001 entregámos um país a George Bush que estava em paz, era respeitado no resto do mundo e que tinha excedentes orçamentais. Desde aí tivemos uns sete anos muito maus. Colocámos o país em guerra, perdemos o respeito do resto do mundo e eliminámos todos os excedentes, acrescentando quatro biliões de dólares à nossa dívida. O país agora será entregue ao novo presidente numa situação de quase recessão e com uma dívida recorde. É um ponto de partida muito mau.
Os candidatos vão ter dificuldades em cumprir a promessa de estimular a economia…
O futuro presidente vai ter pouco espaço de manobra para estimular a economia e colocar em prática as medidas que pretende. Tanto Barack Obama como Hillary Clinton querem alargar a cobertura de saúde. Isso vai custar milhares de milhões de dólares e não será fácil de compatibilizar com o défice que existe. Em contrapartida, o que eles vão conseguir fazer pelo orçamento é reduzir a despesa no Iraque, que tem estado a sangrar os EUA do ponto de vista orçamental. Está a custar cerca de 200.000 milhões dólares por ano. O candidato republicano, John Mccain, quer manter a presença no Iraque e isto representa uma diferença de política significativa, também do ponto de vista orçamental.
Existe a ideia de que Washington está a ajudar a tornar o dólar fraco para ajudar as exportações. É verdade?
Acho que não, pelo menos de forma consciente. O que acontece é que os responsáveis políticos não estão sequer interessados nas evoluções cambiais, mas apenas na inflação e no emprego. Se o dólar continuar a cair para níveis ainda mais baixos, que comecem a afectar a confiança e os mercados financeiros, acredito que as coisas possam mudar de figura.
Como? A Europa pode vir a contar com a ajuda das autoridades norte-americanas para controlar a subida do euro?
Acho difícil. Compreendo as preocupações europeias, mas os problemas são especialmente agravados com o facto de as divisas asiáticas, especialmente a chinesa, não se estarem a apreciar como deviam, deixando o peso todo da correcção para a Europa.
O que acha da situação económica europeia?
Há zonas mais frágeis, como Espanha e Inglaterra. Mas na Alemanha e na França as coisas estão melhores do que esperava. Agora, se os EUA continuarem a ter problemas, a Europa vai senti-los e, brevemente, a atenção vai ter de estar muito mais no crescimento do que na inflação. Por isso acho que o BCE devia começar a mudar a sua atitude.

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