2080 por Paulo Moura
“O conflito do Darfur, antes de qualquer outra razão, deve-se ao aquecimento global. A subida das temperaturas fez o deserto do Sara avançar. Tribos nómadas que conseguiam alimentar o seu gado na savana foram obrigadas a migrar para sul, em busca de novas pastagens. Mas nos novos territórios o equilíbrio entre gente e recursos já era precário. Os janjaweed, os movimentos rebeldes, os ataques governamentais contra as aldeias, os 200 mil mortos e os dois milhões de deslocados vêm depois, em consequência. Tudo isto faz do Darfur uma região mais moderna do que os EUA, a Europa ou o Japão. Uma região precursora do futuro.
O aquecimento global dará origem a um novo tipo de conflitos, por todo o mundo, dizem, num relatório, Javier Solana e Benit Ferrero-Waldner, o coordenador e a comissária da UE para a política externa.
Quebras na produção agrícola na Turquia, Iraque, Síria ou Arábia Saudita empurrarão esses países para a guerra. A crescente falta de água em Israel e no Médio Oriente acenderá ainda mais os conflitos na região. Os países pobres de África tornar-se-ão ainda mais pobres.
Ondas de novos imigrantes chegarão à Europa. “Imigrantes ambientais”, que fogem de zonas empobrecidas pelas mudanças climáticas. Há até quem se prepare para reclamar o estatuto de “refugiado ambiental”.
A tensão e o ressentimento entre o Norte e o Sul vão agravar-se, porque os países pobres do Sul serão as principais vítimas das alterações climáticas, enquanto os ricos do Norte são os principais causadores dessas alterações.
O degelo dos glaciares vai pôr a descoberto novas jazidas de recursos energéticos, e isso provocará rivalidade entre as potências. União Europeia e Rússia vão disputar os hidrocarbonetos do Árctico. O derretimento do gelo abrirá novas rotas comerciais que serão cobiçadas pelas potências.
A guerra pelo controlo dos escassos recursos da energia será tão vital que há quem tenha encontrado para a NATO uma nova vocação, depois da queda do comunismo: a segurança energética.
Será assim o mundo em 2080. Um mundo de ficção científica, um futuro de pesadelo, que nos deve fazer tremer.
É claro que o futuro, realmente, não existe. Porque nunca é como o imaginávamos. O que existe são territórios desconhecidos, aterradores, algures entre nós. Incursões do futuro no tempo presente. O Darfur, por exemplo, é um desses lugares do futuro. Com os seus campos de refugiados, as suas crianças a morrer de fome, os seus “demónios a cavalo”, é uma imagem de futuro que corresponde ao nosso tempo.
Cada momento tem o seu futuro próprio, que se vai tornando obsoleto. Observar, décadas mais tarde, essas representações do futuro é tão hilariante como ver as naves espaciais dos primeiros episódios do Star Trek.
Solana e Waldner não são videntes. Fazem futurologia apenas para nos fazer olhar em redor.
Em 1984, George Orwell não queria mostrar o mundo de 1984, mas o seu, de 1948.”
O aquecimento global dará origem a um novo tipo de conflitos, por todo o mundo, dizem, num relatório, Javier Solana e Benit Ferrero-Waldner, o coordenador e a comissária da UE para a política externa.
Quebras na produção agrícola na Turquia, Iraque, Síria ou Arábia Saudita empurrarão esses países para a guerra. A crescente falta de água em Israel e no Médio Oriente acenderá ainda mais os conflitos na região. Os países pobres de África tornar-se-ão ainda mais pobres.
Ondas de novos imigrantes chegarão à Europa. “Imigrantes ambientais”, que fogem de zonas empobrecidas pelas mudanças climáticas. Há até quem se prepare para reclamar o estatuto de “refugiado ambiental”.
A tensão e o ressentimento entre o Norte e o Sul vão agravar-se, porque os países pobres do Sul serão as principais vítimas das alterações climáticas, enquanto os ricos do Norte são os principais causadores dessas alterações.
O degelo dos glaciares vai pôr a descoberto novas jazidas de recursos energéticos, e isso provocará rivalidade entre as potências. União Europeia e Rússia vão disputar os hidrocarbonetos do Árctico. O derretimento do gelo abrirá novas rotas comerciais que serão cobiçadas pelas potências.
A guerra pelo controlo dos escassos recursos da energia será tão vital que há quem tenha encontrado para a NATO uma nova vocação, depois da queda do comunismo: a segurança energética.
Será assim o mundo em 2080. Um mundo de ficção científica, um futuro de pesadelo, que nos deve fazer tremer.
É claro que o futuro, realmente, não existe. Porque nunca é como o imaginávamos. O que existe são territórios desconhecidos, aterradores, algures entre nós. Incursões do futuro no tempo presente. O Darfur, por exemplo, é um desses lugares do futuro. Com os seus campos de refugiados, as suas crianças a morrer de fome, os seus “demónios a cavalo”, é uma imagem de futuro que corresponde ao nosso tempo.
Cada momento tem o seu futuro próprio, que se vai tornando obsoleto. Observar, décadas mais tarde, essas representações do futuro é tão hilariante como ver as naves espaciais dos primeiros episódios do Star Trek.
Solana e Waldner não são videntes. Fazem futurologia apenas para nos fazer olhar em redor.
Em 1984, George Orwell não queria mostrar o mundo de 1984, mas o seu, de 1948.”
fonte: http://jornal.publico.clix.pt/ .
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